Bem lá no fundo a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto. Bem lá no fundo, em um recanto silencioso de nossos desejos mais profundos, existe uma esperança quase infantil de que nossos problemas possam ser resolvidos por decreto, como uma mágica que elimina todas as dificuldades de uma só vez, sem que precisemos lutar, sofrer ou passar por processos complicados e muitas vezes dolorosos. Essa vontade nasce de uma busca constante por soluções rápidas e definitivas, de uma esperança de que, ao simplesmente assinar um documento ou emitir uma ordem, tudo se resolva, tudo se acerte, tudo volte a ser como era antes ou como gostaríamos que fosse, sem a necessidade de enfrentarmos as complexidades da vida, as emoções conflitantes, as dúvidas, os erros e as tentativas frustradas que muitas vezes parecem ser parte inevitável do nosso crescimento e aprendizado.
No fundo, desejamos que uma autoridade superior, seja ela Deus, o destino, o governo ou até mesmo alguma força interior que ainda não descobrimos plenamente, possa intervir de forma rápida e eficaz, anulando os problemas e trazendo à tona uma realidade livre de obstáculos, de conflitos e de incertezas. Essa esperança de uma solução instantânea é alimentada por uma espécie de cansaço, por uma exaustão emocional e mental que nos faz desejar uma saída fácil, um atalho que nos poupe do esforço, da dor e da ansiedade que acompanham os processos de mudança e resolução. Mesmo sabendo que a vida raramente funciona dessa maneira, que os problemas muitas vezes exigem tempo, reflexão, esforço e, sobretudo, uma transformação interna profunda, há uma parte de nós que insiste em sonhar com um decreto que tudo resolva, que elimine as dúvidas, que apague as mágoas e que traga a paz de espírito de forma imediata. Talvez seja uma forma de manter viva a esperança de que, apesar das dificuldades, ainda há uma possibilidade de que tudo seja mais fácil do que parece, de que a justiça, a felicidade, o amor ou a entendimento possam, algum dia, ser concedidos com um simples clique ou assinatura, como se fosse uma questão de vontade, de autoridade ou de decreto, e não um processo complexo, que exige paciência, persistência, coragem e, sobretudo, tempo para curar feridas, reconstruir sonhos e encontrar sentido nas nossas próprias imperfeições.
Essa ilusão de que tudo pode ser resolvido por decreto é, na verdade, uma expressão do nosso desejo profundo de paz, de simplicidade e de sentido, um anseio que nos acompanha desde sempre e que, mesmo diante das evidências de que a vida é feita de desafios e aprendizados constantes, nunca deixa de pulsar em nosso coração, como uma esperança eterna de que, no final, talvez, possamos ver nossos problemas dissolvidos por uma decisão, uma ordem ou uma vontade superior que nos livre de todo o sofrimento, de toda a dúvida e de toda a complexidade que tanto nos desafia e que, ao mesmo tempo, nos ensina a sermos mais fortes, mais sábios e mais humanos.
